Seja para o primeiro emprego, uma recolocação profissional ou o retorno ao mercado depois de algum tempo parado, todas as empresas pedem que os candidatos enviem um currículo, na maioria das vezes por e-mail. Esse pedacinho mágico de texto tem a responsabilidade de atrair o olhar dos recrutadores e garantir que o candidato saia da fila de espera e passe para a pilha das entrevistas. Para garantir o sucesso em qualquer processo seletivo, os especialistas garantem que clareza e objetividade são essenciais no mercado de hoje, que prima pela velocidade, por isso a apresentação não pode ser negligenciada.
Os recrutadores dizem que pelo menos 25% dos currículos acabam sendo jogados no lixo por conterem erros de português ou exageros de formatação, como papéis e letras coloridas. Além do desperdício de tempo, tanto das empresas quanto dos candidatos, caso o Projeto de Lei nº 6561/09, que tramita na Câmara dos Deputados, seja aprovado, mentiras ou exageros nas competências vai passar a ser crime, da mesma forma que falsificação de documentos, com pena de encarceramento prevista para até dois anos.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RJ), Paulo Sardinha, explica que a função do currículo (CV) é atrair a atenção do recrutador, “mas o melhor deve ser deixado para a entrevista, por isso não pode e não deve explicar o candidato por completo. É durante o encontro ao vivo que vamos confirmar se a pessoa é tão boa quanto aparenta ser no papel. É pessoalmente que pedimos para detalhar, exemplificar ou até mesmo esclarecer a experiência registrada no documento”.
Para garantir a oportunidade de estar na entrevista, além das qualificações necessárias à função desejada a fórmula é simples: clareza, objetividade e o mínimo necessário de informação. “O CV não deve passar de duas páginas porque quem seleciona candidatos tem diante de si um tempo curto e geralmente muitos pretendentes, por isso os objetivos, bem estruturados e com direcionamento claro acabam sendo escolhidos mais rapidamente”, justifica.
A consultora de Recursos Humanos da Catho Online, Patrícia Pereira, lembra ainda que é importante ficar atento à apresentação do currículo e evitar erros de português, dados desnecessários, número de documentos e o uso papéis coloridos.
“Um em cada quatro currículos é descartado por conter fotos inadequadas, erros de português e letras coloridas”, completa Patrícia.
Já a recrutadora Cláudia Freitas, da Zetaprobus, enfatiza que as mentiras e os exageros são facilmente identificados na entrevista ou durante as dinâmicas de grupo, o que gera grande constrangimento para o candidato e muita frustração para quem o escolheu. “A sensação é de traição. Essa pessoa está excluída da seleção. Vou adorar que a mentira no currículo vire Lei, vai dinamizar bastante as seleções, já que perdemos muito tempo aferindo a verdade com os entrevistados”, comenta.
Para ela, uma das maneiras mais eficientes de conseguir ser percebido pelos recrutadores é demonstrar engajamento com a empresa nos últimos empregos e conhecer a firma para onde se candidata. “Com as facilidades da internet, basta fazer uma busca para entender um pouco da empresa para a qual se candidata. Essas informações podem ser usadas durante a entrevista, de maneira casual”, orienta.
O vice presidente da ABRH defende a simplicidade. Por isso, na diagramação, é bom evitar linhas, negritos, símbolos ou sombreados. “O que deve estar destacado é a informação, sempre dando privilégio para as mais recentes e relevantes – dos últimos três a cinco anos – e as direcionadas ao objetivo profissional ou em relação ao emprego que se busca”, aconselha.
Paulo diz ainda que a estrutura básica do currículo deve trazer dados essenciais de identificação, como nome, endereço, telefone, e-mail, data de nascimento, nacionalidade e estado civil. Para ele, o candidato precisa ser objetivo na hora de escolher a área de interesse ou a função pretendida e, quando falar de formação acadêmica, o que deve ter destaque são os cursos de especialilzação, MBA ou mestrados.
“É válido fazer um breve perfil, com as principais características pessoais e contar também um pouco da experiência profissional, mencionando as organizações em que trabalhou, sem esquecer do domínio de idiomas estrangeiros”, destaca.
Paulo destaca que a indicação ainda continua abrindo portas e pode representar um diferencial na hora da contratação “Mas indicação sem talento tem vida curta”, garante o vice-presidente. Para quem está em busca dos preciosos contatos, a dica de Paulo é participar de associações de profissionais, fazer cursos e frequentar eventos profissionais e ampliar a rede de contatos ao dia a dia.
“Um detalhe curioso que não se ensina nas Universidades é que o aeroporto e o avião estão cheios de profissionais e recrutadores, por isso a comunicação interpessoal é essencial. Mas não dá para esquecer detalhes fundamentais como elegância, equilíbrio e profissionalismo”, garante.
Para quem está afastado do mercado por muito tempo, Paulo diz que vale apostar na rede de contatos. “Aqui o mercado é cruel. O profissional pode ser visto no currículo como defasado, por isso o networking é o melhor caminho, mas também vale buscar participar de projetos de consultoria ou mesmo realizar trabalhos terceirizados”, aconselha.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Catho Online, mais de 70% dos profissionais em busca de recolocação têm currículo cadastrado na internet, então, para não perder oportunidades, a ferramenta é indicada. O levantamento identificou ainda que o networking é a principal fonte de recrutamento dos selecionadores, responsável por 28% das contratações. Em seguida, com 22,3%, ficou a Internet.
Para a consultora a Internet ganha terreno, com crescimento de mais de 6% comparado à pesquisa de 2007. “Na média, apenas 4,9% das contratações são realizadas por currículos obtidos por meio do site próprio do empregador. Já dos 17,4% por meio de sites de vagas e currículos enquanto a opção “Trabalhe Conosco” possui pouca representatividade nas contratações”, conclui Patrícia.
Já Paulo adverte que a internet é como o mundo real, portanto “temos bons e maus sites”, conclui. Por isso, ele aconselha que os candidatos fujam dos portais que cobram.
“Os bons sites recebem das empresas pelas consultas e fornecimento de material, é de supor que o ônus de um processo seletivo fique a cargo de quem contrata - a empresa - e não do candidato, que muitas vezes está desempregado”, pondera.
Para quem concorre a uma vaga de primeiro emprego, Cláudia aconselha atenção na ordem das informações e detalhes como o ano em que o estudante está cursando e quando concluiu o ensino superior ou médio.
“Quem recruta para primeiro emprego sabe o que procura e, nesse caso, vale mostrar conhecimentos que possam agregar valor ao trabalho que ele se propõe a fazer, como cursos e workshops. Nesse momento, o mais importante é definir em que área o candidato quer atuar”, finaliza.
Fonte:
Simone Schettino
O Fluminense
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